Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (C.L.)


Fuce.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Narrativa dos meus dias.


É impressionante como as pessoas andam com pressa.

Andam de andar mesmo, caminham, correm, vivem com a danada da pressa, que persegue quase todas as pessoas que eu conheço.

Ao amanhecer é perceptível e intrigante a maneira o qual as pessoas se comportam, a ansiedade de chegar logo, de não se atrasar. Pontualidade. Coisa de paulistano metódico e estressado (sim, eu faço parte desta parcela).

O meu trajeto é sempre igual, monótono, tirando o medo de ser assaltada (paranóia da minha cabeça depois que levaram meu mp4 em plena 07h15 da manhã em uma rua perto de casa).
Pode? Um mp4! Ladrãozinho ordinário!

Acordo, me visto, nem sempre penteio o cabelo (confesso), geralmente prendo e também pinto o rosto para amenizar as olheiras, tradução de trabalhar pela manhã, estudar a noite e não ter tempo para dormir suficientemente quanto gostaria.

Levo cerca de 30 minutos para me aprontar, daí saio de casa e caminho 15 minutos até o ponto de ônibus, onde vejo sempre as mesmas pessoas, indo para os mesmos lugares, tomando as mesmas conduções.

Como não seria diferente, eu também embarco na mesma linha de sempre, na verdade tenho o “privilégio” de poder escolher entre duas diferentes, depende de qual chegar primeiro. Torço para que o coletivo venha vazio e eu possa cochilar um pouquinho, mas é em vão, o empurra-empurra, desconforto e sono me assolam todos os dias, a mim e mais um infinito de gente.

No ponto que eu aguardo a chegada do transporte público decadente, sempre tem um “cara” que se acha o descolado, ele pega um ônibus cujo motorista e cobrador não cobram a passagem dele. Tem uma grávida também, praticamente acompanhei o crescimento do bebê no ventre dela, acho que já vai nascer pelo tamanho que a barriga está. Tem uma moça que parece um ratinho, não sei por que, eu só acho. É inconsciente e imprevisível o jeito que você começa a prestar a atenção nas pessoas.

Chegando ao metrô é possível se deparar com rostos um pouco mais diversificados, mas ainda assim são os mesmos, eu é que não devo reparar.
A ida não é tão conturbada, mas a volta, ah, a volta chega a ser drástica, vocês achariam que eu estou narrando uma guerra e não o retorno para home, sweet home. No meu caso, vou para a aula mesmo.

Estado de natureza! Lembro-me bem de uma aula de sociologia e antropologia no 1º semestre da faculdade, meu professor exemplificou a estação “Sé” como sendo o homem em seu estado de natureza, ultrajante não? Um pisoteando o outro, cotovelando, brigando, se matando praticamente, um quer entrar, o outro quer sair, tudo pela mesma porta. Costumo caracterizar minha volta como uma “aventura”.

Estive pensando na minha rotina esses tempos, e me assustei!
É tudo tão calculado que fica difícil de alterar alguma coisa no percurso.

Sou urbana, além de humana. Vou continuar no caos da cidade, da vida corrida, dos dias curtos.

Continuo aqui, fico aqui e vivo aqui, pretendo não ser esmagada por ninguém. Contemplo a sonoridade das buzinas, mas não com louvor, com um certo ar de passividade, de “fazer o que”? A poluição é repugnante, mas o cheiro de terra não me atrai tanto.

A cidade não para, ela é contínua, não descansa, nem tira um cochilo como eu.
É, pensando bem, tenho mais sorte do que ela...


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