Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (C.L.)


Fuce.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alter ergos de Suzi.

[...] O diário dos Alter egos de Suzi falando, alô, alô:

- Pra ser bem sincera, não tenho certeza quanto ao meu futuro (nem quanto ao meu presente, que dirá o futuro...).

No fundo ela é só uma menina de olhos arregalados, com leves sardas amarronzadas na altura das bochechas e com a pela manchadinha pelo sol, mas nada que uma boa base não resolva quando ela quer se sentir melhor.

- Sinceramente, desacredito piamente que algum dia alguém se apaixone por mim do jeito que eu sou. 'Magricelinha', desengonçada míope, de pernas finas e absolutamente ----- [e encantadoramente - essa parte 'ela' nunca cita]----- boba.

No fundo, ela nem acha nada disso, mas é assombrada com alguns pensamentos ruins de vez em quando, que vez ou outra resolvem persegui-la.

- Talvez porque já se passaram nem sei quantos anos e nunca mais estive com ninguém - pelo menos ninguém que valesse a pena. Talvez porque opções tenham faltado, ou porque as oportunidades não foram aproveitadas na hora certa - se bem que pra falar a verdade, não tenho nenhuma lembrança muito eufórica de nada que pudesse me tirar de minha zona de conforto. Sim, é confortável, é estável.

No fundo, ela tenta se proteger. Pobrezinha.

- Ok. Talvez eu tenha me retraído, com medo de entrar em algum abismo desconhecido, ou conhecido implicitamente. Estou presa em minha bolha, cuja única pessoa autorizada a entrar sou eu mesma. Aqui não cabe mais ninguém. Dê o fora! - grita meu consciente.

No fundo, ela quer dizer pra ela mesma que se sente bem dessa maneira, e talvez se sinta mesmo. Mas sinto uma carência contida nesse coração, sei lá...

- Queria poder saber se vou acabar uma solteirona convicta na casa dos 40, que viverá em um apê bacanésimo, com cachorros e pássaros e peixes, músicas, filmes, algumas obras de arte, ingressos de shows passados e uma certa melancolia, ou a convicção do termo 'bem-resolvida e feliz' com o rumo da minha vida.

No fundo, ela não pode prever. Ninguém pode. E ela não sonha mais. Preciso resgatar essa menina.

- O pensamento não me amedronta, pelo menos não de forma que transpareça fragilidade de minha parte, mas confesso que pode ser triste viver sem ter alguém pra partilhar seus planos, angústias, comemorações...

No fundo, ela é franca, e sabe que a franqueza é uma qualidade divina para si mesma.

- Desabafo, protesto, entenda como quiser. Indecifrável até pra mim. Minha missão nesse mundo certamente não foi viver um conto de fadas. Não mesmo. E vou envelhecendo [estou com 34 e isso me assusta], enferrujando, me conformando e correndo atrás de coisas palpáveis.

No fundo, ela espera alguma coisa que também não sabe bem o que é. Mas ela espera. Espera. Um dia vai chegar. E aí a Suzi vai voltar pra contar, tenho certeza.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Da série 'Casamentos'.

Com exceção dos meus pais, arroz e feijão, pão com manteiga e macarrão com frango, o único casal que acredito que nasceram um para o outro é o livro e a música.

Livros e músicas se complementam.

Eu particularmente amo ler apreciando uma [às vezes nem tão] bela canção. Ao tilintar de cada nota sinto as emoções dos personagens, não sei explicar. Alguns livros que li tiveram trilhas sonoras específicas, o On The Road, por exemplo, li escutando Arctic Monkeys do começo ao fim - com algumas 'intromissões' de Bloc Party, confesso. O 1984 foi Placebo na veia, Orgulho e Preconceito ficou com Cícero... e por aí vai.

Mas o barato é esse mesmo, vc creditar uma trilha sonora sua, particular, onde você é o 'diretor' do que cabe ou não àquela história.

A música me ajuda a configurar uma sonoplastia - se assim posso me referir - pra cada livro lido, pra cada história desencadeada.

Os livros, por sua vez, têm seu charme, excentricidade, malícia e volúpia. Histórias brotam a cada parágrafo proclamado.

Ambas as paixões têm tanto em comum, mas são tão opostas ao mesmo tempo... a começar pelos 'sentidos'... audição e visão, que juntos formam uma dupla de sensações inebriantes e instrospectivas ao mesmo tempo.

Os olhos que fitam o livro, atônitos e ansiosos por desfechos, são os mesmos que deixam lágrimas percorrerem pelo rosto, após ter um momento nostálgico, sonhado depois de ouvir determinada melodia.

Fato é que, ler sem música e escutar música sem imaginar a letra é quase como nadar em uma piscina de areia. Não faz sentido.
Os livros, as músicas, tudo parte de possibilidades infindáveis de sensações, cada qual com o seu poder sobre nosso desejos, anseios, medos, emoções e aspirações.

Eu digo LIVROS e MÚSICAS. Livros de verdade e músicas de verdade.

Porque música é uma história contada, e são essas a que me refiro.
E porque livros são passaportes para viagens extradiordinariamente especiais e únicas. Porque vocês vai da ficção à realidade, do Oiapoque ao Chuí, dos romances aos suspenses, em um virar de página, tudo isso sem precisar se mover, só deixar os pensamentos e a imaginação fluirem.

É por isso que se combinam tanto.
Tão fantasiosos, mas no fundo tão cheios de verdades, de países, de momentos, que temos a obrigação de reviver como personagens, e fica até difícil, às vezes, voltar pra realidade...