Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (C.L.)


Fuce.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Encontro Com o Outro.

Algumas pessoas, algumas bebidas, uma garoa fina e um som alto.

Eu estava ali, sem sombra, sem lenço e sem documento - como diria Caetano.

O meu corpo dançava, cambaleava com a música estridente, aliás, barulho! Porque aquilo não era digno de ser chamado de música.

Minha cabeça estourava, parecia ter uma orquestra desafinada dentro do meu ouvido, destruindo meus tímpanos, mas eu continuava me mexendo, e fingindo que aquela órbita de euforia me fazia bem.

Até que um instante de êxtase me acometeu, e eu saí daquele lugar, onde estivera por horas a fio, e fui para um outro mundo, quase um paraíso.

E ali eu tive uma visão, do meu futuro, ou talvez de alguma outra vida que eu sempre quisera ter.

Mas foi como um sonho, quando ele ainda está naquela parte do cérebro em que não dá pra lembrar de nada do que aconteceu, só me recordo da sensação boa e da brisinha que batia em meu rosto.

E em questão de segundos, aquele sentimento sumiu, escafedeu-se - como diria minha avó (sim, gosto de citações).

Então, continuei naquele antro de perdição, regado à drogas lícitas e ilícitas, conturbado, feroz e cheio de iniquidades. Mas mórbido, ao mesmo tempo. Uma contradição só!

De repente, vi-me vagando por becos sujos, onde bitucas de cigarros ainda quentes, soltando aquela fumacinha chata de odor desagradável, e as cinzas tomavam conta do chão.

Os pedregulhos atrapalhavam meus passos, que estava de salto alto naquele dia esporadicamente - meio descascados - mas ainda assim era um belo salto alto.

Ele fazia sentir-me mais mulher, mesmo que por dentro eu me sentisse ora gigante, ora menina-moça, ora criancinha, mas nunca exatamente uma mulher feita.
Talvez por isso eu nunca tivera sorte com os rapazes, a auto-confiança nunca fora minha melhor qualidade.

 Ainda no caminho obscuro e gélido em que eu estava andando quase como quem foge de "coisa ruim", avistei uma imagem, que não sabia distinguir se era uma pessoa, um objeto, ou uma miragem.

Aproximei-me e percebi que era uma espécie de alter ego, era eu, em outra dimensão.
Com cuidado, perguntei o que estava fazendo ali, e tive uma resposta - para o meu espanto.

- Eu estou fora de sua vida, porque você precisa se encontrar. Precisa selecionar e filtrar as coisas que te fazem bem e uma pessoa melhor. Precisa mostrar que é uma menina-moça, com cara de criança e expectativas de uma mulher com o coração gigante.
Mas não se contente, você é mais do que isso, nós somos mais do que isso! Reaja, garota!
A vida é cheia de altos e baixos mesmo, e eu só consigo habitar em ti, se for de sua permissão e de sua vontade.

Era o Espírito Santo. Eu sei que era.

Ali eu me debulhei em lágrimas, caí aos meus próprios pés e já não sabia o que sentia mais.
Se era medo, alegria, dor, aflição, só sei que fiquei aficcionada  pela imagem nada nítida que fizera parar o meu caminho.

Talvez o destino, esteja condenado à visita de uma parte de nós mesmos, para que consigamos discernir o que de fato estamos plantando em nosso jardim.

Tem que ter espaço para alguns personagens adentrarem nossa alma, porque existem momentos, que só encenando pra se safar de algumas situações.

E isso não quer dizer, necessariamente, que você seja uma pessoa falsa. Não.

Meu intuito não é que ninguém compreenda o que está vomitado nesse espaço que fora branco, aqui.
Só precisava pôr pra fora, essa explosão de letras, frases e palavras, que borbulhavam em minha mente.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Minha São Paulo.


Meu caso com São Paulo é coisa antiga.

Ela é minha amante, minha esposa, minha companheira, minha cúmplice e acima de tudo: minha atmosfera.

Adoro saber que é nela que eu vou descobrir quantas coisas bacanas existem para se fazer sem gastar muito, ou gastando muito, ou gastando nada.

É ela que me mostra todos os dias, que para viajar, eu não preciso sair daqui.

É nela que eu encontro a diversidade cultural de raças, cores, credos, estilos, nacionalidades e peculiaridades.

É nela que encontro diversão e cultura de domingo a domingo, 24 horas por dia.

É com ela que eu constato, que o 'metrô' apesar dos pesares, é o meio de transporte que vai me fazer chegar mais rápido, mesmo.

É ela que me prova que aqui é terra de oportunidades, mas não de milagres.

É nessa São Paulo que eu moro, que eu vivo, que eu AMO.

E é nesse caos, nessa correria, nessa falta de tempo que nos ronda ironicamente - já que se tem tanta coisa para fazer por aqui - que eu parabenizo minha linda, imensa, e produtiva São Paulo!

Minha cidade, cidade sua, cidade nossa, cidade de quem permitir que ela seja.

Menina que abraça e acolhe gente de todo canto, que mostra as coisas boas e coisas ruins que a vida oferece.

Ela me apunhala pelas costas às vezes, quando diz que 'o tempo ficará aberto', e repentinamente, cai o maior pé-d'água. Mas eu não ligo! Já me acostumei com essas peças que ela costuma me pregar. A garoa dela é tão famosa, que ganhou até bordão!


Terra da Garoa!

São Paulo é metrópole, é caos, é poluição, é gente com pressa, é o antro dos negócios, é um paraíso de possibilidades!

Parabéns, minha querida, pelos seus 458 anos!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Senhorinha da Pizzaria.

Para o primeiro post de 2012, decidi escrever algo que realmente tivesse um sentido e um sentimento bom envolvido, espero que gostem da "historinha".

Certo dia, resolvi comer uma pizza com uma amiga, e ao chegarmos na pizzaria entrou também uma senhora.

Aparentava ter uns setenta e poucos anos, era bem magrinha, de cabelos tingidos - mas a raiz branca não negava a idade que realmente tinha -, tinha olhos azuizinhos, trajava uma calça de lã cinza, sandália, uma blusa coloridinha com um broche de maçã, uma echarpe também de lã, e nas mãos, segurava uma sacolinha e também uma bengala.

Ela sorriu para nós, e puxou assunto, como quem estivera pedindo atenção. Seu olhar estava solícito por alguém que lhe ouvisse.
Ali estávamos: eu e minha amiga, a senhorinha, as atendentes da pizzaria, e os clientes sentados, fazendo suas refeições. Mas parecia que ninguém mais enxergava a velhinha, senão eu e minha amiga, e antes que déssemos conta, já tínhamos começado a conversar com a mesma.

Ela falou sobre novelas, perguntou se acompanhávamos alguma, e eu respondi a ela como se ela fosse minha avó, com o maior carinho. Lembrei-me muito de minha avó, que neste momento está olhando por mim, de algum lugar melhor que esse mundo injusto e sujo. Lembrei-me do meu pai também, que falecera com mais ou menos a mesma idade dessa senhorinha com quem eu conversava.

Contou piada, riu conosco, nos fez rir absurdamente, como fazia tempo que eu não ria tão involuntariamente e por um motivo tão puro: a inocência de uma mulher, que poderia ser minha avó.
Nos divertimos quando ela disse:
"- Esperem aí, vou contar mais uma piadinha... - olhou em sua sacolinha de plástico, e soltou: 
- Iiih, esqueci meu livrinho de piadas em casa, que pena que eu não lembro de cabeça."


Ela nos disse que fez uma novela, e que seu marido tocava muito rock'n'roll em uma rádio em que trabalhara, e que a esfiha de chocolate "daquela" pizzaria, era muito gostosa! Percebemos a espontaneidade dela, e isso realmente me cativou.

Percebi que a reação das pessoas daquele estabelecimento foi meio desprezível, como se estivéssemos loucas, como quem diz:
"- Nossa, olha a atenção que estão dando à essa senhora maluca."

Às vezes enxergamos tantas coisas pequenas em lugares pequenos, e que tomam proporções tão gigantescas - em relação a brigas, desavenças -, ou então, a ambição de querer sempre mais e mais é tanta, que acabamos esquecendo de pessoas importantes em nossas vidas, e deixamos de dar atenção a elas.

Fiquei pensando na carência dessa senhora, e fiz algumas indagações:
- Será que os filhos dela a ouvem?
- Será que ela tem com quem conversar?
- Será que as pessoas a valorizam pelas coisas que certamente ela já deve ter feito de bom?

Eu só sei que eu a tratei como uma pessoa, que merece respeito acima de tudo, e não me senti nem um pouco envergonhada por qualquer motivo que fosse, que àquelas pessoas por acaso fantasiaram em suas mentes.

A saudade que bateu de minha avó e de meu pai, foi incontestável e indescritível, e vi como forma de retribuição - a talvez alguma vez que eu não tenha prestado tanta atenção em alguma coisa que ambos já me disseram - conversar com a divertida mulher dos cabelos brancos tingidos.

Essa história realmente aconteceu, eu não a inventei, e gostaria muito de dizer para quem teve a paciência e curiosidade de ler, que abracem mais os seus avós, os seus pais, e digam que os amam infinitamente, e o mais importante: converse, ouça-os, pergunte coisas sobre seu passado, parece pouco, mas tenho certeza que eles vão se sentir muito especiais por isso.

Sim, eu sei, a câmera do meu celular é uma merda, mas aí está a  "senhora maluquinha" - apesar de nesta foto não parecer, ela era bem velhinha.
Até a próxima.