Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (C.L.)


Fuce.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Estranheza

Um dia resolvi que seria diferente. E a partir daí, eu fui mesmo.
Algumas pessoas entendem isso como uma capa protetora, uma espécie de maneira de se camuflar, ideia de psicólogo.

Eu, particularmente, entendo “ser diferente” uma forma de se libertar, liberar seus pensamentos e vontades através de atos, vestes, gostos, enfim, versatilidade e inovação.
Eu sou um ser vivo, minhas noções básicas de sobrevivência me obrigam a navegar dentro de um mundo comum, mas nem por isso sou um parasita dominado e alienado pela massificação de informações fúteis e desnecessárias que são veiculadas por ai em meios distintos.
Eu sou estranha. Eu gosto de comer pão com manteiga e açúcar, uso um óculos de grau maior do que os meus olhos, tenho dreads no cabelo, pinto as unhas com cores vibrantes, uso sapatos que ninguém que eu conheço usaria, tenho gostos peculiares... Auto-indagação: Por que?
Eu não sei, não tenho explicação para a formação de minha personalidade.

Só sei que me transformei.
Quando se descobre as suas verdadeiras afinidades é muito mais simples criar o seu personagem real dentro desta historinha que é a nossa vida. A Vida dentro da Vida. Percursos.
O meu jeito de ser, minha maneira de pensar a vida causa estranheza em algumas pessoas.

Minha mãe vive dizendo que eu nem pareço que sai de dentro dela.
“ – Lá vem você com esse cabelo, esse óculos, essas roupas esquisitas né Alessandra.”
Rs.
Eu me divirto com as reações e fico curiosa para saber o que se passa na mente de cada um.

Mas essa já é uma outras história, subliminar.

Alessandra Caires
Uma mente em constante inconstância.

Coisas.

Me lembro de coisas antigas, passadas, remotas, mortas.

Coisas palpáveis. Coisas inodoras. Coisas abstratas.

São coisas. Inexplicáveis ou fundamentadas, são apenas coisas.

Que palavra esdrúxula! Coisa! Coisa feia, eu hein!

Não é assim que se denominam objetos? Coisas?

Ou então: “Ah, vi, vi...ai meu Deus, como é mesmo o nome? Ah, a Coisa lá! Sabe?”

Pois bem.

Há coisas que aconteceram lá atrás.

Quando se tem 17 anos, por exemplo, tudo é mais intenso, ou parece ser, whatever.

Paixonite ou paixão? Amor ou ódio? Sentimentos. Coisas!

Coisas que repentinamente tomam proporções drásticas.

São atos e pensamentos irrevogavelmente discriminados pela sua juventude, pela passividade ou fúria dos seus hormônios a flor da pele, seu sangue querendo correr, aliás, correr não... Querendo ferver! É, acho que é muito intenso mesmo.

Aí se faz 18 anos! Nossa, não acredito até hoje que cheguei, ou melhor, que passei dos 18 anos.

Imagina-se um mar de fantasias... carro, faculdade, homens mais velhos, festas (entrada com o RG, bem orgulhoso mesmo, estampando bem no verso sua data de nascimento, certinha, sem falcatrua).

Não. Não aconteceu nada de interessante, ah sim, gostei aí de um carinha, isso foi um pouco antes dos 18.

Ai depois de alguns meses, acabou. E eu que pensei que ia durar. Bobagem.

Relacionamento não, nunca mais! Sofri horrores, imagine!

Após um tempo...

Perdi meu alicerce, meu pai, faleceu de câncer. Menos de um mês depois perdi minha avó materna. Não deu tempo de fazer a hemodiálise.

Perdi o chão. Perdi metades de mim. Nem tudo é como desejamos... Ou melhor, NADA é como desenhamos em nosso imaginário.

Depois dos 18, demorou um pouco para outra “coisa” mais séria ocorrer, foi com 20 anos, e lá vem outro carinha, bem na época que perdi meus tesouros.

Ah não, de novo não. Pensei: como quase publicitária posso criar um botão ou uma pílula que desfaça os sentimentos, isso!

Achei ter encontrado a solução para quando estivesse envolvida, mas não deu certa a minha ideia mirabolante. O botão ou pílula não iam funcionar. Acho.

O período mais crítico é até 7 meses, após isso considere-se em um relacionamento sério. Sério.

Todavia, também não deu certo. Não por minha parte, que estava indo de vento em polpa e tola, não desconfiei de nada, de nada que viesse fazer o cidadão se distanciar.

Mas que droga, que droga de vida em que nada dá certo! – penso sempre, todos os dias, todas as horas, todos os minutos, segundos, milésimos...

Mulher é fogo! Chora, se descabela, se doa, gosta, cuida, briga, faz as pazes, sonha, pensa, lembra-se de coisas e mais coisas. Enquanto o homem, o menino... já está até investindo em outras!

Ah, as coisas lá do início, elas estão presentes em cada linha, cada parágrafo, é um assunto muito extenso mesmo.

Não há explicação plausível que conforte um coração machucado.

Bem, apesar de se sentir o pior ser do universo e acreditar que ninguém irá gostar de você suficientemente ao ponto de abrir mão da liberdade mundana de estar rodeado de mulheres e “pegar” quem quiser... acho que daí começa-se a perceber a real personalidade do seu ex-companheiro de aventuras.

Percebe-se o ser estranho e irreconhecível que ele é.

E você não acredita que conseguiu passar mais de um ano ao lado de uma pessoa que não conhece! Incrível, não? Mas é assim, pergunte algo muito profundo a sua mãe, por exemplo, sobre seu pai e verá.

Questione sobre amores passados, sobre amigas do colégio, enfim, parece constrangedor, e é.

Eu não conheço as pessoas com que me relaciono. Conheço-as por um instante, por uma circunstância, mas não tenho um detector de pensamentos – tá aí outra coisa que eu podia inventar, vou ficar rica! – voltando... e assim você pensa que sabe com quem está lidando e percebe que nem sempre as coisas são como parecem.

Ditado: As aparências enganam.

Nunca gostei muito de citar ditados, mas olha esse aí, não é que se encaixou direitinho?

Ah, parei nos 20 né? Curioso (a)?

Tenho 21 agora. 1 ano a mais não parece nada né? Não, não é? É muita coisa sim (olha a coisa novamente!).

Eu não tenho diário, mas parece que ia ser interessante se tivesse.

Tenho meus planos e objetivos, vou cumpri-los, com o meu esforço, com a minha capacidade e com a ajuda de pessoas que realmente torcem para o meu bem.

Relacionamento? Hum, não tenho opinião formada sobre isso. Talvez eu até queira muito alguém, para suprir um outro alguém, as saídas de finais de semana, as ligações costumeiras, mas tão aguardadas, as briguinhas fúteis, os abraços, carinhos, amassos...tá! Talvez eu queira, mas justamente por isso sei que nada acontecerá agora.

Por isso prefiro pensar em algo que valha perder, ou melhor, investir meu tempo, que é precioso.

Ler, estudar, trabalhar, caminhar, sorrir, abraçar, conversar. – adoro verbos.

Esse é um dos inúmeros capítulos infinitos e não tão concisos de minha vida.

Você não me conhece, eu não lhe conheço, mas você sabe da minha vida, que coisa louca, divina!

E como diria Clarice Lispector em uma das frases que eu mais admiro e me espelho:

“- E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.”

Termino minha mensagem com esta citação esplêndida da Clá. Grande Clá...

Alessandra Caires
Uma mente em constante inconstância.