Certo dia, resolvi comer uma pizza com uma amiga, e ao chegarmos na pizzaria entrou também uma senhora.
Aparentava ter uns setenta e poucos anos, era bem magrinha, de cabelos tingidos - mas a raiz branca não negava a idade que realmente tinha -, tinha olhos azuizinhos, trajava uma calça de lã cinza, sandália, uma blusa coloridinha com um broche de maçã, uma echarpe também de lã, e nas mãos, segurava uma sacolinha e também uma bengala.
Ela sorriu para nós, e puxou assunto, como quem estivera pedindo atenção. Seu olhar estava solícito por alguém que lhe ouvisse.
Ali estávamos: eu e minha amiga, a senhorinha, as atendentes da pizzaria, e os clientes sentados, fazendo suas refeições. Mas parecia que ninguém mais enxergava a velhinha, senão eu e minha amiga, e antes que déssemos conta, já tínhamos começado a conversar com a mesma.
Ela falou sobre novelas, perguntou se acompanhávamos alguma, e eu respondi a ela como se ela fosse minha avó, com o maior carinho. Lembrei-me muito de minha avó, que neste momento está olhando por mim, de algum lugar melhor que esse mundo injusto e sujo. Lembrei-me do meu pai também, que falecera com mais ou menos a mesma idade dessa senhorinha com quem eu conversava.
Contou piada, riu conosco, nos fez rir absurdamente, como fazia tempo que eu não ria tão involuntariamente e por um motivo tão puro: a inocência de uma mulher, que poderia ser minha avó.
Nos divertimos quando ela disse:
"- Esperem aí, vou contar mais uma piadinha... - olhou em sua sacolinha de plástico, e soltou:
- Iiih, esqueci meu livrinho de piadas em casa, que pena que eu não lembro de cabeça."
Ela nos disse que fez uma novela, e que seu marido tocava muito rock'n'roll em uma rádio em que trabalhara, e que a esfiha de chocolate "daquela" pizzaria, era muito gostosa! Percebemos a espontaneidade dela, e isso realmente me cativou.
Percebi que a reação das pessoas daquele estabelecimento foi meio desprezível, como se estivéssemos loucas, como quem diz:
"- Nossa, olha a atenção que estão dando à essa senhora maluca."
Às vezes enxergamos tantas coisas pequenas em lugares pequenos, e que tomam proporções tão gigantescas - em relação a brigas, desavenças -, ou então, a ambição de querer sempre mais e mais é tanta, que acabamos esquecendo de pessoas importantes em nossas vidas, e deixamos de dar atenção a elas.
Fiquei pensando na carência dessa senhora, e fiz algumas indagações:
- Será que os filhos dela a ouvem?
- Será que ela tem com quem conversar?
- Será que as pessoas a valorizam pelas coisas que certamente ela já deve ter feito de bom?
Eu só sei que eu a tratei como uma pessoa, que merece respeito acima de tudo, e não me senti nem um pouco envergonhada por qualquer motivo que fosse, que àquelas pessoas por acaso fantasiaram em suas mentes.
A saudade que bateu de minha avó e de meu pai, foi incontestável e indescritível, e vi como forma de retribuição - a talvez alguma vez que eu não tenha prestado tanta atenção em alguma coisa que ambos já me disseram - conversar com a divertida mulher dos cabelos brancos tingidos.
Essa história realmente aconteceu, eu não a inventei, e gostaria muito de dizer para quem teve a paciência e curiosidade de ler, que abracem mais os seus avós, os seus pais, e digam que os amam infinitamente, e o mais importante: converse, ouça-os, pergunte coisas sobre seu passado, parece pouco, mas tenho certeza que eles vão se sentir muito especiais por isso.
Sim, eu sei, a câmera do meu celular é uma merda, mas aí está a "senhora maluquinha" - apesar de nesta foto não parecer, ela era bem velhinha. |
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