Algumas pessoas, algumas bebidas, uma garoa fina e um som alto.
Eu estava ali, sem sombra, sem lenço e sem documento - como diria Caetano.
O meu corpo dançava, cambaleava com a música estridente, aliás, barulho! Porque aquilo não era digno de ser chamado de música.
Minha cabeça estourava, parecia ter uma orquestra desafinada dentro do meu ouvido, destruindo meus tímpanos, mas eu continuava me mexendo, e fingindo que aquela órbita de euforia me fazia bem.
Até que um instante de êxtase me acometeu, e eu saí daquele lugar, onde estivera por horas a fio, e fui para um outro mundo, quase um paraíso.
E ali eu tive uma visão, do meu futuro, ou talvez de alguma outra vida que eu sempre quisera ter.
Mas foi como um sonho, quando ele ainda está naquela parte do cérebro em que não dá pra lembrar de nada do que aconteceu, só me recordo da sensação boa e da brisinha que batia em meu rosto.
E em questão de segundos, aquele sentimento sumiu, escafedeu-se - como diria minha avó (sim, gosto de citações).
Então, continuei naquele antro de perdição, regado à drogas lícitas e ilícitas, conturbado, feroz e cheio de iniquidades. Mas mórbido, ao mesmo tempo. Uma contradição só!
De repente, vi-me vagando por becos sujos, onde bitucas de cigarros ainda quentes, soltando aquela fumacinha chata de odor desagradável, e as cinzas tomavam conta do chão.
Os pedregulhos atrapalhavam meus passos, que estava de salto alto naquele dia esporadicamente - meio descascados - mas ainda assim era um belo salto alto.
Ele fazia sentir-me mais mulher, mesmo que por dentro eu me sentisse ora gigante, ora menina-moça, ora criancinha, mas nunca exatamente uma mulher feita.
Talvez por isso eu nunca tivera sorte com os rapazes, a auto-confiança nunca fora minha melhor qualidade.
Ainda no caminho obscuro e gélido em que eu estava andando quase como quem foge de "coisa ruim", avistei uma imagem, que não sabia distinguir se era uma pessoa, um objeto, ou uma miragem.
Aproximei-me e percebi que era uma espécie de alter ego, era eu, em outra dimensão.
Com cuidado, perguntei o que estava fazendo ali, e tive uma resposta - para o meu espanto.
- Eu estou fora de sua vida, porque você precisa se encontrar. Precisa selecionar e filtrar as coisas que te fazem bem e uma pessoa melhor. Precisa mostrar que é uma menina-moça, com cara de criança e expectativas de uma mulher com o coração gigante.
Mas não se contente, você é mais do que isso, nós somos mais do que isso! Reaja, garota!
A vida é cheia de altos e baixos mesmo, e eu só consigo habitar em ti, se for de sua permissão e de sua vontade.
Era o Espírito Santo. Eu sei que era.
Ali eu me debulhei em lágrimas, caí aos meus próprios pés e já não sabia o que sentia mais.
Se era medo, alegria, dor, aflição, só sei que fiquei aficcionada pela imagem nada nítida que fizera parar o meu caminho.
Talvez o destino, esteja condenado à visita de uma parte de nós mesmos, para que consigamos discernir o que de fato estamos plantando em nosso jardim.
Tem que ter espaço para alguns personagens adentrarem nossa alma, porque existem momentos, que só encenando pra se safar de algumas situações.
E isso não quer dizer, necessariamente, que você seja uma pessoa falsa. Não.
Meu intuito não é que ninguém compreenda o que está vomitado nesse espaço que fora branco, aqui.
Só precisava pôr pra fora, essa explosão de letras, frases e palavras, que borbulhavam em minha mente.
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